(...) Para quem, como os antigos, divide tudo em 4, o mundo tem 4 partes, e o ano 4 estações, das quais a terceira, o Outono, está ligado ao terceiro temperamento, o melancólico, e ao terceiro quarto do dia, entre as 3 da tarde e as 9 da noite.
O terceiro quarto do dia é a luz crespuscular, oblíqua, que ilumina as gentes a caminho de casa, depois do trabalho. Antecede e anuncia a noite, que pertence ao sono, ao submundo e à inanidade. A noite é o lugar do não-visível, do mundo ausente, onde a morte (e o diabo) desfazem os laços com que o homem, durante o dia, foi cosendo o seu entendimento. (...)
Esta luz é a luz da lucidez, de quem já vê as sombras na claridade do dia, para quem toda a representação é também uma representação dos seus códigos.
in Lusitania, vol. 1 n.2 (Inverno 1988)
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