Os Meus Livros

Os meus livros (que não sabem que eu existo)
São tão parte de mim como este rosto
De fontes cínzeas e de cínzeos olhos
Que inutilmente busco nos espelhos
E com esta mão côncava percorro.
Não sem alguma lógica amargura
Penso que as palavras essenciais
Que me exprimem residem nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevi.
Melhor assim. As vozes dos mortos
Falarão de mim sempre.

Jorge Luis Borges

in A Phala, nº 23 Abr/Mai/Jun 1991
trad. José Bento

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