EL CORAZÓN DE LO QUE EXISTE

no me entregues,
tristísima medianoche,
al impuro mediodía blanco


Alejandra Pizarnik, in Los trabajos y las noches
Se cerró el sol, se cerró el sentido del sol, se iluminó el sentido de cerrarse.

Alejandra Pizarnik

O meu país é o que o mar não quer (Ruy Belo)

o meu país é um amontoado disperso de objectos inúteis, lixo - desordem que o mar deixou na areia da praia. pedaços de rede, latas de refrigerante, uma garrafa vazia.
o cansaço que não deixa crescer nada neste lugar de desencanto. e o pior de tudo é que não podemos simplesmente ir embora. não vale a pena. porque o meu país é o mundo inteiro.


"Quando o mundo estiver reduzido a um só bosque negro para os nossos olhos espantados - a uma praia para duas crianças sinceras, - a uma casa musical para a nossa simpatia - encontrar-vos-ei."

Jean-Arthur Rimbaud, Iluminações (trad. de Mário Cesariny)

filmes que eu gostava de voltar a ver



Mauvais Sang de Leos Carax


(talvez por causa da cerveja na janela)
"Não Fiques. Ficar vai dar cabo de ti."

não me larga. a memória desta frase que a minha amiga I. escreveu há muitos anos

sessão da noite



Este filme é para mim o filme que melhor traduz uma das expressões mais enigmáticas (numa primeira leitura) das muitas que ficaram das entrevistas de Tarkovski: "No cinema só há uma coisa importante: a verdade dos estados momentâneos”. Um acontecimento caracteriza-se por ser, imprevisível, inesperado e surpreendente. As suas causas estavam fora do horizonte do nosso conhecimento e por isso nos parece em princípio casual. Quando entra no nosso âmbito epistemológico sem carta de apresentação, exige que a nossa razão e a nossa liberdade se ponham em jogo inexoravelmente. Quando uma passagem de um filme nos entrega um acontecimento assim, sem nos serem dados os factores que o explicam, e portanto que não se pode reduzir a mero símbolo visual, exige de nós que abandonemos a passividade e nos impliquemos no filme com toda a nossa pessoa: “A arte deveria modificar a vida das pessoas que a vivem…”

- K. Furtado

my moleskine



"It might be a good idea for you to disappear from Casablanca for a while"
não sei como se sobrevive ao cansaço dos dias das manhãs melhor não escrever não te quero triste se lês sabes que morro um pouco mais não quero porque te amo escrevo ainda na esperança que isso de escrever ajude a manter viva uma coisa qualquer que já não sei bem o que é espécie de chama frágil ao vento

(e há cada vez mais janelas partidas na minha casa)

pesadelo inventado

(enquanto tento repetidamente e sem sucesso afixar um comentário em defesa do JLG)

"- agora cala-te e vai actualizar o blog!"
noite espessa. insónia.
a única coisa certa é o cansaço.

.

São tão difíceis os encontros, mais
difícil a separação.
O vento leste perdeu a força,
murcharam todas as flores
Na Primavera, os bichos-de-seda
tecem, até morrer, os fios do coração;

As lágrimas da vela não secam até o
pavio ser cinza.
De manhã vendo-se ao espelho: ficará
grisalho o cabelo?
Repetindo um poema durante a noite,
sentirá o arrepio do luar?

Não é longe, daqui até ao Rio Escuro -
Pássaro Azul, depressa, vigia-me a
estrada


Li Shang-yin
Chuva na Primavera


[citado a partir do blog Pequenas Histórias]

as ruínas do blog

Acabou um dos meus blogs preferidos. O Pequenas Histórias para além de nos proporcionar pequenas doses de prazer através do seu humor fino e preciso era também na minha modesta opinião um dos blogs mais "publicáveis" da blogosfera lusa.

Restam as ruínas do blog, vestígios de uma primeira ocupação pelas palavras da Ana Cordeiro.
Escavo um pouco à procura. Há um email e uma caixa de comentários abandonada...

"... à falta de poder dizer mais sobre aquilo do qual se escreve"

"(...) Há, para começar, uma necessidade física. Se a solidão fizesse sentido não seria preciso mostrá-la, à espera que alguém a reconhecesse.
(...) Tenho a certeza que não se pode ter o que se ama. Ser amado não corresponde jamais ao amor que temos, porque não nos pertence.
(...) Escrever é fixar o que não pode ser fixo. Mesmo as frases mas vagas prendem as pessoas, sejam elas personagens ou leitores, a uma espécie de verdade qualquer, que depois nunca mais pode ser destruída, destruindo a liberdade, já de si tão precária, de existir.
(...) Sei que não consegui. Só espero não tê-lo conseguido bem."

Miguel Esteves Cardoso, in A Phala nº 41 (Dezembro de 1994)

quem, eu?

The Hermit Card
Image from The Aleister Crowley Tarot deck.
http://www.aeclectic.net/tarot/thoth/

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